sábado, 3 de setembro de 2011

Pelo sabor do gesto: Reflexões sobre memória e sentimento

Ensaio sobre a obra As Canções de Amor de Christophe Honoré

Não é de nossa competência explicar exatamente os sentimentos, visto que estes não são palpáveis, mas suas relações com a memória são cruciais para a compreensão, pois a importância atribuída a determinadas lembranças depende diretamente da carga sentimental que elas carregam.

O filme As canções de amor – titulo original em francês, Les Chansons d’amour – é sem duvidas cheio de cargas emocionais. A história trata de um casal – Ismael e Julie – que resolve convidar uma moça – Alice – para formarem um trio , um ménage-à-troi como dizem os franceses e os conflitos que isso trouxe, culminando na morte de uma das personagens – Julie.

As canções de amor é um musical inspirado no movimento da Chanson Française – movimento cultural que vem do período anterior a segunda guerra até meados dos anos 60, com grandes representantes conhecidíssimas como Edith Piaf, Frehél, Barbara (influência direta desta cantora), Marie Laforêt – mas com uma roupagem contemporânea. Feito com matérial pré-existente, composto por Alex Beaupain.

As músicas de As canções de amor são densas, mas ao mesmo tempo minimalistas, elas trazem a tona quase toda a carga sentimental do filme, servindo de diálogos , ou seja, como um bom musical, não se limita a somente ser a trilha sonora, escutá-la isoladamente já trás boa parte do sentimento presente no filme.

A rigor o filme é dividido em três momentos Le Depárt, L’Absence e Le Retour - A partida, A ausência e O regresso – mas é pertinente nos deter nas cenas que muito dizem sobre a linguagem, portanto, alguns recortes serão feitos dentro dessas divisões maiores cada um com seu enfoque especifico.

Le depárt

A partida.

Nessa primeira parte vejo a necessidade de pelo menos quatro recortes, nomeados alguns pelas músicas, mas antes uma breve explicação sobre o começo do filme. Se Walter Benjamin estivesse na Paris mostrada – Paris do século XXI – ele provavelmente enxergaria a morte da experiência em um maior grau. Paris é mostrada com todo seu movimento de uma cidade moderna e suas contradições.

A música de fundo transmite uma melancolia, a cidade se move, mas o mesmo tempo é gélida, cinza, talvez, sob algumas expectativas, até morta. Todos em freqüente movimento é o ritmo frenético do mundo moderno. Julie para na fila do cinema, mais uma vez ela se vê sozinha, então a história realmente começa.

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De bonnes raisons & inventaire

Boas Razões & Inventário

Nesse trecho é perceptível a crise das relações, apesar de todo um aparato tecnológico construído para aproximar, a cultura humana acaba criando barreiras. Ismael não pode se manter junto de Julie por conta de sua obrigações – emprego na edição de um jornal - essa crise de relações é uma ponte interessante para citar O mal estar na cultura de Freud. A cultura humana trás esse mal estar essa ausência de sentido nas ações cotidianas.

“Não me faltam boas razões para te amar” diz Ismael, mas a situação em que ele se pôs, mostra uma Julie irredutível, o costume os fez chegar num estagio de mal estar, o hábito tornou a vida a dois dele enfadonha.

É chegada a hora do inventário, “nada é secreto tudo se perde, o que nós somos na hora do inventário?” diz Julie, os hábitos e os anos passaram a pesar – “seus erros, meus juízos. As minhas criticas, os teus pecados _ E depois? _ Depois sonhamos com o antes” – É perceptível a crise, o desejo de passado é latente, sonhar com o antes é uma necessidade de continuar prosseguindo, é acreditar no passado como modelo ideal, é só enxergar no passado esse ideal.

As mascaras de Ismael

É impossível não enxergar como uma referência ao teatro grego esse momento, o jogo de mímicas não é uma simples brincadeira é uma representação dos tipos clássicos do teatro grego. A tristeza, a felicidade, o espanto e o desespero, são interpretados em um tom irônico por Ismael, enquanto a família de Julie se empenha em adivinhar que expressão ele representa.

É um almoço de família, provavelmente em um domingo, uma reunião de todos os entes familiares na mesa, a atuação de Ismael tem propósitos miméticos, de representar tais sentimentos que existem na realidade. É evidente o efeito catártico desse momento na diversão da família, principalmente o pai e a mãe de Julie.

Julie mais uma vez demonstra sua insatisfação, interpretando a mímica de Ismael como uma ofensa direta – “ele quer dizer que eu o levo da alegria ao desespero – e se retira da mesa. É demonstrado pela primeira vez um dos tipos de amor abordados pelo filme, o amor familiar.

O ambiente familiar se mostra como um refugio, que nos permite pensar na infantilização do adulto pela ausência dessa provável representação mimética na infância – o declínio da brincadeira na sociedade atual e as conseqüências disso para a formação de novos adultos - Jeanne, a irmã mais velha de Julie, nos é apresentada, é com ela que os conflitos de relacionamento são divididos e a nova experiência, o ménage a troi.

O papel de Alice

Apesar de descrita como um dos motivos da crise, Alice nos é apresentada como um elemento conciliador. Ismael e Julie se mostram novamente hostis um com o outro, discutindo no meio da rua.

Então Alice se mostra entre eles como um elemento de comunicação e entedimento entre os dois – “Eu sou a ponte sobre o riacho que vai de ti a ti, atravessem-me, que boa oportunidade, beijem-se sobre mim.”

E é através dessa “ponte” há um breve momento de conciliação e então seguem os três cantando pela noite para encontrar o destino – que no caso seria um show, do próprio Alex Beaupain.e um acontecimento drástico.

Delta Charlie Delta

Esta freqüência policial soa como um mal pressagio na história. Nunca estamos preparados para lidar com uma grande perda e quando ela vem o sentimento de dor parece infindável. Ao sair do evento Julie sofre um ataque cardíaco fulminante e devido a sua idade ela morre em pouquíssimo tempo.

A morte subida de Julie atinge a todos à sua maneira, Ismael começa a vagar perdido, a família se mostra extremamente abalada, principalmente Jeanne, e Alice também é atingida a sua maneira.

A morte é representada como um agente catalisador da história e é uma representação de como a vida humana é breve. Nietzsche dizia que somos pó perante ao universo e uma morte súbita vem como comprovação disso, a vida é um instante, nós seres humanos somos apenas isso, instantes.

Arrisco dizer que o maior conflito do filme é justamente esse, a memória presente do amor que morreu e como se lida com isso, os três personagens que destaquei cada um terá sua maneira de lidar com o evento, Ismael se movimentando sem rumo, Alice algumas horas com Ismael outras seguindo seu próprio curso e Jeanne condenada a imobilidade.

L’Absence

A ausencia

A segunda parte vem como uma mudança no rumo da história, o luto e a dor estão presentes em todo momento. E é também onde conhecemos um personagem que assumirá grande importância na trama:

Erwan, um jovem rapaz bretão, que nos é apresentado como irmão de um envolvimento de Alice após a morte de Julie. Erwan se encanta por Ismael e começa a tentar seguir o seu ritmo, enquanto Ismael se mantém repelindo qualquer demonstração de afeto vinda dele.

O novo papel de Alice

Como pessoa mais próxima de Ismael, Alice tem um papel fundamental no momento da dor - o apoio e o amor de uma amizade. Nos tempos de crise são os amigos que mais nos ajudam, o amor da amizade é representado até de maneira erótica, mas ainda assim não se trata de um romance.

O papel purificador da dor é assumido pelos abraços e carinhos trocados entre os dois no chão da redação do jornal, uma das cenas mais belas do filme, é necessário apenas calar, como diz a canção, apenas o afeto, este é também um elemento de catarse de purificação da alma.

Pelo sabor do gesto

Não é a primeira cena de Erwan, mas é sua primeira música. Ele adiciona um ar jovial a trama e é o contraponto para a fadiga dos personagens mais velhos. É um dos momentos mais sutis da obra “As-tu Déjà Aime?”- você já amou? - é uma canção-dialogo, onde Ismael representa o espírito cansado das decepções e tristezas da vida

Enquanto Erwan é o novo, aquele que não possui traumas ainda e canta com um tom sonhador em contraponto ao pessimismo do outro. É uma música sobre a durabilidade dos sentimentos, os amores que duram e nos deixam exaustos e os imaturos que trazem esforços inúteis.

É uma reflexão sobre como nos envolvemos, ou deixamos de nos envolver nos dias de hoje, os relacionamentos estão ficando escassos, nós preferimos descarregar nossos afetos nas coisas que nas pessoas, a pós-modernidade é a crise dos valores e dos sentimentos do homem.

O primeiro sinal de um provável envolvimento entre os dois, Ismael apesar de ainda negar o afeto do jovem o procurou e de certa forma passa a apreciar a sua companhia, mesmo que tenha sido apenas para fugir das lembranças e Erwan mostra seu interesse e com seu jeito jovial e sonhador.

A marcha sem rumo de Ismael

O luto da dor, nos leva a cometer atos impensados, não se raciocina bem com um trauma latente e Ismael segue seu movimento na história, a contraponto de tudo ele mantém-se em constante movimento. É uma marca sem rumo, sem perspectiva, Ismael segue e se entrega aos entorpecentes – álcool – e se relaciona sexualmente com uma desconhecida.

Essa maneira de lidar com a dor é um tanto violenta e tem efeito curto, o prazer momentâneo não finda a dor só adiciona mais confusão, uma postura hedonista nesses momentos não resolve, os excessos são prejudiciais, principalmente para alguém que é cobrado diariamente por trabalho ou estudos.

As memórias se mantêm constantes e as comparações são inevitáveis, Ismael enxerga Julie em todas as partes, sua imagem aparece e se afasta dele sem que ele consiga alcançá-la, ele está perdido, ele se sente perdido, então marcha sem rumo pela sua própria história.

Le RetourO regresso

Ma memoire Sale - Minha memória suja

Erwan mantém a insistência com Ismael, que acaba cedendo ao espírito jovem, “Ma Memoire Sale” é o regresso do amor romântico no filme. Erwan assume o papel de limpar a sujeira dentro da memória de Ismael, que faz a súplica -“lava, lava” - por que é incapaz de realizar-la sozinho – “Eu tentei, eu tentei, mas tenho o coração seco e inchado.”

É só nele que ela vive e é necessário que ela morra uma segunda morte. Chegou o tempo de esquecer. Nietzsche em uma de suas obras faz um paralelo com os animais, os animais são felizes por que não têm memória, portanto, o esquecimento é necessário para chegar a felicidade.

Talvez seja em parte necessário, quando se passa por um trauma muito grande as pessoas tentam fazer o máximo para nem lembrar, segundo Jeane Maria Gagnebin, as vezes até por receio do que as pessoas a volta vão pensar.

A relação lembrar e esquecer é importantíssima para a história, por que nós temos a obrigação de lembrar para esquecer, ou seja, lembrar para que não aconteçam eventos de horror como o holocausto, e no caso de um relacionamento afetivo a não repetição dos mesmos erros. Lavar a memória talvez não seja esquecer, lavar a memória pode ser simplesmente torná-la suportável e seguir adiante.

A imobilidade de Jeanne

A irmã mais velha de Julie, parece ser a única personagem condenada a imobilidade, Ela tenta se apoiar em Ismael, mas ele está mais preocupado em seguir seu ritmo de movimento. Alice segue ao lado de Ismael, mas depois procura seu próprio caminho, só Jeanne que permanece presa a memória de Julie.

Portanto a única saída que ela enxerga é o refugio em um passado mais recuado, a infância dela e de sua irmã. Jeanne procura consolo no “Parc de la Pépinière”. Jeanne Marie Gagnebin no livro “Lembrar escrever esquecer” tem um ensaio que nos permite refletir sobre essas memórias de infância. “O rumor das distancias atravessadas” é construído usando como base a obra de Proust, “Em busca do tempo perdido”.

Nesse ensaio Gagnebin disserta sobre a memória involuntária e sua riqueza – que na obra de Proust é representada por um pequeno biscoito chamado de Madeleine, tomado com chá em um fim de tarde – em contraponto com a pobreza de uma rememoração intencional.

Jeanne tem sua rememoração espontânea através do “Parc de la Pépinière”, que ela e sua irmã freqüentavam, mas apesar da lembrança sincera ela se mantém no sentimento de falta da irmã – “Tudo lá estará, tudo lá estará, Exceto você” – portanto, condenada a imobilidade e a frequente rememoração da perda.

A visita tardia

Após discutir com Jeanne, Ismael vaga sem rumo mais uma vez e decide visitar o tumulo de Julie. Nesse momento a própria Julie canta numa espécie de aparição fantasmagórica . “Por que vens tão tarde?”

De fato essa visita tardia de Ismael, contraria seu movimento, mas ela é como uma cicatrização de uma ferida. É como a cicatriz de Ulisses da Odisséia, citado por Gagnebin, a cicatriz vai marcar o evento na memória de Ismael, é um não esquecer, mas sim um se acostumar com a dor até restar apenas uma cicatriz.

Alegoricamente amor

Após vagar sem rumo, novamente, Ismael volta para Erwan, mas apenas procurando o conforto de um corpo e sem intenções amorosas. Porém Erwan está disposto apenas a se doar com a condição de dizer "te amo", é a ultima cena do filme e a consolidação do romance dos dois, a música termina deixando no ar uma frase, “Ame-me menos, mas me ame por mais tempo”.

Essa singela frase nos faz pensar na utilidade prática do romance nos dias de hoje. Recorrendo a Walter Benjamin, sua alegoria na modernidade, nos trás uma discussão sobre a reativação da alegoria nos tempos modernos e a decadência dos signos, o amor pode ser visto como um signo de uma elite, mas talvez hoje seja um pouco diferente.

Não querendo definir os sentimentos, mas não é pertinente enxergar o amor como um signo dominante, o amor talvez esteja mais na categoria de alegoria, os vários tipos de amor e afeto hoje são sentimentos alegóricos, mas como o foco da obra é o amor, pode-se concluir que, o amor é uma alegoria que inventamos para transgredir o “ditador-socidade”. Esta é a utilidade prática do romance como ente cultural, um dos fatores responsáveis para livrar o homem da neurose causada por esse mundo moderno. É um alicerce para sobreviver as pancadas e cobranças da sociedade

sábado, 6 de agosto de 2011

Excessos.

Mais uma vez estou aqui no blog, vou vomitar um pouco de texto, cuspir um pouco o que se passa em mim. Certa vez eu disse para uma pessoa que esse ano está se mostrando para mim como um ano de excessos, excesso de felicidade, excesso de tristeza, excesso de vontade, excesso de problemas, acho que nunca tive um ano tão turbulento (e sei que provavelmente a tendência não é "melhorar", pelo menos não agora)

A titulo de começo queria falar um pouco de saudade, essa também pode ser excessiva, acho que é talvez o excesso mais cruel, quando Freud falava que a modernidade trouxe o distanciamento ele estava certo, mas em partes, ele não tinha a ideia do que é algo como, por exemplo, a internet, algo que não conhece distancias, mas isso tudo tem um limite. Criamos afeto pelo longe, mas quando o temos perto e depois nos afastamos sentimos mais saudades do que se imagina.

A perspectiva do re-distanciamento dói, dilacera, e no meu caso trás a tona coisas que eu não devia cultivar, as neuroses, mas não quero enveredar-me pelos caminhos da psicanálise aqui, quero falar somente sobre o sentimento do excesso. O excesso de saudade é uma situação que raramente estamos acostumados, nos apegamos a qualquer coisa, nos seguramos nas lembranças, no que guardamos, nos presentes, nas mensagens, nos poucos minutos de ligação ou nas sms guardadas em uma pasta no seu celular.

Criamos uma especie de saudosismo por um passado não tão distante, e assim vamos lidando, é impossível fingir que não aconteceu e se deslocar de volta pra sua antiga normalidade, é insensato até, é se negar, mas é um pouco triste isso tudo, nem sempre serve de combustível para novos planos, as vezes deixa a pessoa um pouco estagnada em um pedaço de tempo que não volta.

O excesso tem essa face, os excessos me movem por um turbilhão de coisas e me fazem pensar que em pouco mais de seis meses eu vivi mais que minha vida toda, essa agitação, esse frisson, eu não quero voltar atrás, quero sentir essas emoções, quero levar isso até as ultimas consequências, dar certo ou errado não importa, o que importa é sentir.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Av. Paulista.


Todos em algum momento de conversa comigo devem ter notado o quanto eu gosto e falo bastante dessa avenida, então resolvi escrever um texto para que entendam perfeitamente meu sentimento quando eu ando pelo coração da cidade de São Paulo, numa tarde no meio da semana, fazendo 18 graus e com uma leve garoa.

São Paulo, maior metrópole brasileira, um verdadeiro emaranhado de pessoas e coisas interessantes para serem desvendadas, Sampa pulsa, Sampa tem vida própria, mas de todos os lugares fantásticos que conheci lá, nenhum deles consegue me tocar tanto quanto a Av. Paulista, as vezes não entendo bem por que...

É um sentimento engraçado de liberdade que se apodera de mim, não sei se é por que estou há mais de 3000 km de casa andando só em uma das maiores avenidas do país, talvez não, acho que se morasse lá também ia sentir isso, acho que é alguma coisa no ar. Não que eu tenha a preocupação de ser comum, toda minha vida eu fui taxado de incomum pelos outros, acho que me acostumei...

Mas na Paulista é interessante, você anda na multidão e parece invisível, não por que você é normal, longe disso, mas por que não importa que você seja incomum existem tantos outros 'incomuns' que você pode ser você sem medo e você anda as 16h, com uma sacola de roupas numa mão e na outra um chocolate gelado com doce de leite e chantily, do Pátio Paulista até a Livraria Cultura do Espaço Nacional...

Parafraseando a famosa música...

'Alguma coisa acontece no meu coração.
Que só quando eu cruzo a Paulista e a Consolação...'

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Diálogos

Somos diálogos, para mim não há melhor sentença para iniciar esse texto. Talvez seja uma nova fase da minha escrita nesse blog, textos mais gerais que de certa forma me incluem, mas não somente. Bem, vamos ao texto, a forma desse texto será uma espécie de reprodução de dialogo entre o autor (eu) e alguém (consciência?)

_O que somos?
_Nós? Somos dialogo.
_Mas por que dialogo?
_ Porque a cada conversa que temos absorvemos algo
_ Algo?
_ Sim, a cada palavra nova aprendida, a cada sentido novo assimilado
nós absorvemos opiniões.
_Mas, seria o homem um mero reprodutor de discursos?
_Depende, existe sempre alguém disposto a reproduzir as mesma idéias, mas no geral
não, cada um entende as palavras de acordo com sua referencia de mundo e absorve o que é 'útil ' ao seu conhecimento.
_ Mas há troca?
_Sim, do mesmo jeito que se absorve, se doa informação é uma via de mão dupla.
_ Mas por que isso nos define?

Desde que nascemos somos expostos a diferentes diálogos, em casa, nas escola, na rua, em qualquer ambiente que frequentamos, nós somos nossa vivência. O que aprendemos é fruto dos diálogos que temos, até ler é um dialogo (indireto) o que lemos entra no nosso pensamento, assimilamos e construímos, a nossa opinião. Por isso somos diálogos, por que é impossível se fechar para as experiências externas nem mesmo os eremitas sao capazes de se isolar por completo, mas isso não é tema para essas divagações.

Somos Diálogos.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Amargo

As vezes tenho esse curioso sentimento, a amargura é gerada normalmente por algo que você repreende (descrevendo de maneira bem superficial). Mas não vou mentir que dependendo do meu estado gosto de cultivar isso. Pode parecer estranho aos que seguem o padrão social, que é estampar um sorriso largo na cara e dizer "seja feliz" sempre, mas pouco me importa, gosto de buscar certos sentimentos taxados como "podres".

Ontem tive aula sobre teatro grego, e fiquei refletindo como o ser humano é sádico, gostamos de ver a tragédia, achamos isso prazeroso, isso está em nós não da pra negar, atire a primeira pedra quem nunca desejou o mal, a muito mais coisas dentro do ser humano do que simplesmente o bem e o mal. E é isso que procuro criticar, esse dualismo exacerbado que somos forçados a assimilar. A idéia de bem e mal está tão atrelada na gente que nem pensamos quando vamos aplicar esses conceitos.

Não quero explorar a podridão humana, isso já esta meio clichê, quero tentar sintetizar que o bem e o mal se confundem dentro de qualquer um, mas gosto de olhar tudo por uma ótica individualista, existem motivos que nos levam tomar certas atitudes, existem escolhas (suas e dos outros) que definem uma atitude e é ai que eu volto a citar o amargo.

O sentimento de amargura é bem curioso, por que ele consegue ser mais insuportável, até mais que a dor e não é nem um pouco belo, ao contrario do martírio que a dor as vezes carrega atrelado.

O amargo é simplesmente o ranço que fica quando 'algo' está 'estragado' e isso nos possibilita atitudes bastante curiosas. Negamos o amor, repudiamos valores, cuspimos na cara de quem quer que seja. O amargo nos deixa com vontade de pisar nas pessoas, ele libera nossa face mais insensível e egoísta, mas o contraponto é; quando chegamos nele que muitas vezes tomamos coragem para fazer o que 'tem que ser feito', o que as condições nos forçam a fazer e assim construirmos novas possibilidades. Não há bem e mal, nem certo e errado há conflitos de interesse e pessoas amargas movendo as peças.

Por isso proponho minha teoria: é a amargura que move o mundo, pois o doce é ilusório.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Não cultivo o hábito de escrever aqui direto, estou até impressionado de ter me vindo a vontade de escrever não tanto tempo depois da minha ultima postagem, mas percebi que talvez eu seja capaz de fazer melhor certas analises escrevendo, leia-se vomitando, o que penso do que simplesmente refletindo.

Pensei em começar esse texto fazendo um sumário geral de todas minhas ultimas emoções, sim são coisas ótimas, mas não acho que precisam ser exatamente ditas em um blog, acho que já reafirmo elas demais, não vejo necessidade de demonstra-las mais uma vez aqui. Então decidi falar sobre o que eu acho que devo mudar.

Bem, é fato que sou muito inseguro, isso sempre fez parte de mim, não é algo que gosto, mas é tão forte dentro de mim que não sei como evitar, tenho muitas duvidas, nunca sei se sou capaz realmente de algo e quando me acho muito capaz me deparo com desafios que a priori parecem muito insolúveis.

É fato também que tenho muitas manias adquiridas ao longo da minha vida, coisas que parecem pequenas, mas que se não fizerem parte da minha rotina eu me sinto como se tudo fosse dar errado. Mas talvez minha pior mania é querer resolver tudo, parece ser bom quando se fala assim isolado, mas quando você se depara com coisas que você não consegue resolver é frustrante e isso somado a minha insegurança não me ajuda.

Também sou muito disponível, eu não meço esforços para tentar ajudar quem realmente me importa e isso é outra coisa que parece boa, mas se não for feita com cuidado me deixa com a minha velha sindrome do inconveniente. É eu sofro disso, eu frequentemente me acho um peso morto para as pessoas, é como se qualquer ínfimo desejo parecesse algo extremamente inconveniente e penoso de ser feito para as pessoas que convivo.

Eu também tenho muita dificuldade para enxergar quando erro com os outros, as vezes pareço um idiota que não enxerga coisas obvias e o que me faz me sentir um inútil. Isso junto com o fato de eu está disponível não é bom. E pra piorar eu tenho baixa auto-estima, eu não consigo me achar interessante e esqueço que o que determina se sou interessante não é um padrão de estética comum.

O engraçado, ou irônico até, que apesar de todos esses problemas eu consigo ser otimista. Definitivamente não me entendo, eu tenho tudo para ser uma daquelas pessoas que tem o pessimismo como meta, mas eu não consigo não acreditar que algo vai da certo, mesmo sem acreditar em destino eu acredito plenamente que algo tem que da certo para mim.

Falei tudo isso e não sei como concluir, não sei ainda se me dei conta do que necessito, talvez apenas precisasse expor meu problemas de uma maneira "um pouco" organizada e talvez quando eu for ler isso de novo me apareça alguma solução, se é que existe solução...

Quero a calma que nunca tive...

sábado, 18 de setembro de 2010

Escrevendo em um sábado...

Hoje é sábado, dia 18 de setembro de 2010. Essa postagem não tem bem um sentido, tá talvez até tenha para meu sub-consciente, enfim, a questão é que estou aqui tentando escrever algo por mera vontade de escrever. Como estava dizendo hoje é sábado e como qualquer sábado em casa não tem muita coisa de diferente.

É engraçado como o ambiente fica um tanto parado, eu e meu pai somente, minha irmã saiu sabe-se lá pra onde e minha mãe essa dai nem se fala. Fica tudo tão silencioso, tudo tão individual. E me pergunto: Isso é bom ou ruim?

Sabe, não sei responder. Eu costumo gostar de estar sozinho, mas não sei se estar sozinho acompanhado é algo bom para mim, não vou dizer atípico, por que definitivamente não é. Tantas vezes acontece, mas é estranho, principalmente quando a sensação é prolongada. Não que eu não goste do meu pai, mas ficamos sempre calados eu no PC e ele com seus "brinquedinhos". Só tenho momentos de conversa com ele no carro.

É um tanto estranho e quase sempre nostálgico, creio que mais para ele do que pra mim. A ultima vez que aconteceu foi na quinta, conversamos sobre como ele conheceu um dos melhores amigos dele e quase irmão. A conversa chegou num ponto em que citamos uma antiga namorada dele e irmã desse amigo.

E me veio o pensamento: o que seria se ao invés da minha mãe ele tivesse casado com ela? Ta eu já me convenci que não da pra dizer "o que seria se não fosse", mas é inevitável pensar seria outra perspectiva de vida não necessariamente minha, talvez nem estivesse aqui, pelo menos não como sou hoje.

Mas o passado tem muitos desses entraves, infelizmente não nos foi dado nenhuma ferramenta para experimentar diferentes modos de passado (ou felizmente né, nunca se sabe) e então damos asas a nossa imaginação. Ta esse é apenas mais um dos meus textos vagos, que não explica nada. Me desculpem por ser um tanto "adversativo" é meu jeito mesmo...